Bluepharma coloca Coimbra no mapa
07 de May de 2021 in "Diário de Coimbra"
Entrevista ao Diário de Coimbra de Paulo Barradas Rebelo, presidente da Bluepharma.
Quando falamos em Coimbra "como uma região de excelência na área da saúde", a Bluepharma é uma empresa de referência incontornável, uma vez que, no sector em que se insere, tem levado o nome de Coimbra de Norte a Sul do país e além fronteiras. Para isso, muito tem contribuído o trabalho desenvolvido, todos os dias e ao longo dos últimos anos, «colocando Coimbra no mapa». Porque, garante Paulo Barradas Rebelo, presidente do Conselho de Administração da farmacêutica, «não basta ter slogans e não basta dizer que se faz. Há que trabalhar todos os dias e é isso que nós fazemos, contribuindo para a afirmação de Coimbra como uma cidade boa para se fazer boa saúde e boa indústria farmacêutica».
Além da Universidade de Coimbra (UC) - com quem a Bluepharma tem uma relação de grande proximidade, afirmando-se como uma empresa escola - e grandes hospitais, a cidade e a região têm na área farmacêutica um conjunto de empresas que se têm vindo a afirmar, «contribuindo para um sector que se desenvolve de forma muito saudável». Na sua génese, a farmacêutica com sede em S. Martinho do Bispo, procurou contribuir para um país e um mundo melhor, identificando, por um lado, as dificuldades dos portugueses em adquirirem os seus medicamentos e, por outro lado, o esforço permanente do Estado para cumprir com as suas obrigações. Assim, «fomos à raiz do problema e como os medicamentos eram de facto muito caros percebemos, desde muito cedo, que era possível fazer qualidade a baixo custo. E portanto a nossa entrada no mercado obedeceu a esta lógica: ir ao encontro das necessidades da população portuguesa e do Estado, que somos todos nós» lembra.
O sector dos medicamentos genéricos permitiu, assim, e de acordo com o responsável, um conjunto de vantagens para Portugal: por um lado, a democratização do consumo de medicamentos, com os preços a apresentarem hoje uma redução «de 100 para 10, cerca de 90%, com os medicamentos genéricos a serem muitíssimo mais baratos e acessíveis que os originais». Neste sentido, recorda, o sector da indústria farmacêutica contribuiu para uma poupança ao Estado «de mil milhões de euros ao ano desde que a Troika esteve em Portugal,contribuindo muito para a sociedade ». Por outro lado, a empresa tinha como ambição ser exportadora, contribuindo para um país mais equilibrado, exportando mais e evitando a importação de medicamentos.
Desta forma, a Bluepharma foi crescendo de forma sustentada, vendendo e empregando mais. «O emprego também era para nós algo de muito importante e penso que também aí temos cumprido porque em 20 anos passamos de 58 pessoas para 750. A Bluepharma é hoje um grupo de 20 empresas, com 750 pessoas a trabalhar. Sinal de que os medicamentos genéricos têm estas vantagens de democratizar o consumo ao doente, de fazer poupar dinheiro ao Estado, de empregar gente e de criar valor», enumera.
Alcançado este propósito, criação de valor e de equipas, a Bluepharma alimentava ainda a ambição de ser, não só uma empresa de produção de medicamentos genéricos, mas também uma empresa dedicada à investigação e ao desenvolvimento, contribuindo para o cluster da saúde em Coimbra. Nesta vertente, tem vindo a desenvolver um conjunto de investigações não só dentro da Bluepharma mas também aproveitando o conhecimento que se faz na UC através de parcerias entre as duas entidades. Paulo Rebelo Barradas é da opinião de que «esta relação entre o conhecimento que é feito nas universidades e a ponte para as empresas é determinante para o sucesso dos países e das economias» e por isso, desde muito cedo, a Bluepharma ligou-se à UC, de quem é hoje um parceiro muito importante. A Bluepharma está, assim, a fazer o seu percurso nesta área da investigação e desenvolvimento. É um caminho «longo, difícil mas que vale a pena ser percorrido». Neste momento, «já temos um medicamento na área do cancro a ser testado em seres humanos. É difícil chegar até esta fase e nós já o estamos a fazer», sublinha. Também está em desenvolvimento um medicamento para a Covid- 19. «Estamos no início de um processo que pode levar anos porque na indústria farmacêutica nada é imediato », refere, ressalvando a excepção das vacinas que foram criadas para combate ao SARS-CoV-2. «É um exemplo muito promissor porque utilizaram todas as ferramentas disponíveis e articularam, numa parceria muito sólida com as autoridades e com toda a cadeia de valor das vacinas, e num ano conseguiram trazer ao mercado um medicamento de qualidade, seguro e eficaz». Com a sua responsabilidade, cuidado e conhecimento, a farmacêutica não podia deixar de dar o seu contributo «numa pandemia que nos está a afectar a todos». Assim contribui para a possibilidade de vir a existir um medicamento para tratamento, que minimize os efeitos e que evite, ou diminua significativamente os internamentos hospitalares.
Por tudo isto, Paulo Barradas Rebelo julga estarem cumpridos, nestas duas décadas de existência da farmacêutica, os seus desígnios: ser uma empresa próxima da população e do Estado, fortemente exportadora, e que desenvolve investigação. «Somos uma empresa que exporta 90% do que faz e essa exposição ao mercado internacional dános uma credibilidade muito grande porque exportamos para praticamente todos os países europeus, nomeadamente para os mais ricos e sofisticados, exportamos também para a Austrália, EUA, Médio Oriente, África e América Latina», refere. Desta forma, a Bluepharma, e Coimbra, estão presentes em todas estas geografias.
Projectos em curso
No âmbito do "Bluepharma Acelera 2030", e com um investimento total de 50 milhões de euros, a farmacêutica está a remodelar a fábrica em S. Martinho do Bispo, expandindo-a em todas as suas vertentes, com a criação, por exemplo, no Centro de Investigação e Desenvolvimento de um novo laboratório que já está em pleno funcionamento. As novas instalações que estão a nascer em Eiras são o segundo projecto idealizado no âmbito do "Acelera 2030". Neste novo edifício, serão desenvolvidas moléculas de alta actividade terapêutica, representando na sua maioria, medicamentos para o cancro (95%). «São medicamentos complexos e diferenciados. Temos vindo a desenvolver cada vez medicamentos mais difíceis onde há menos competição e onde há maior valor», sublinha o presidente do Conselho de Administração da Bluepharma. Esta nova unidade, que se vai chamar ONConcept, vai ser no fundo «uma fábrica muito orientada para estas áreas do cancro. É uma unidade de ponta e as obras ainda estão a decorrer» esperando-se que, até ao final deste ano, estejam concluídas.
Por sua vez, o Bluepharma Park é um investimento para 10 anos a rondar os 150 milhões de euros. Para este espaço, já deu entrada na Câmara Municipal de Coimbra o pedido do licenciamento das obras da plataforma logística. Será o primeiro espaço a ser construído, face às necessidades da empresa, seguindo-se, quase de imediato, a criação da zona de embalagem, intervenção que deverá avançar também em breve face à falta de espaço em S. Martinho do Bispo.
Para a área de 35 mil metros quadrados de telhado – uma das maiores superfícies cobertas em Coimbra - a Bluepharma tem ainda projectado, dentro de quatro anos, a instalação de uma fábrica de injectáveis complexos. Dedicada ao fabrico de formas sólidas de medicamentos, a farmacêutica tem estado, desde há cinco anos para cá, a desenvolver injectáveis complexos. «São produtos de grande valor acrescentado, difíceis, mas temos pessoas a trabalhar já com forte conhecimento nestas áreas. A fábrica será para acomodar esses desenvolvimentos que estamos a fazer. Se surgir a oportunidade de virmos a colaborar na área das vacinas, tenho dito que estamos bem preparados para o poder fazer mas também dizemos sempre que não é uma coisa imediata. Licenciar, construir uma unidade, definir o projecto, adquirir os equipamentos, criar equipas, formá-las, começar a produzir, nunca antes de quatro anos para que isso venha a acontecer», explica.
Para o espaço restante do Parque que vai nascer em Cernache, a Bluepharma pretende atrair parceiros, «pequenas empresas que queiram estar connosco e que podem contar com o nosso knowhow como suporte, ou grandes empresas que se sintam confortáveis no Parque, com acesso a mão-de-obra qualificada». Coimbra, diz, «tem-nos dado uma vantagem competitiva muito grande porque tem mão-de-obra muito boa. A indústria farmacêutica é uma área em que as pessoas contam e são o principal activo. Temos pessoas muito bem preparadas e estamos a desenvolver-nos porque temos exactamente essas competências e essa credibilidade».
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